BELO HORIZONTE - Como se fazendo jus ao título do seu novo disco,
"Meus Encantos", Paula Fernandes acaricia a cabeça de Fada, o mais
bonito e também o mais arisco dos 17 pôneis que circulam pelo Terra de
Gigantes, um haras vizinho ao seu sítio, dentro de um condomínio nos arredores
de Belo Horizonte. O animal fica sossegado por alguns minutos, enquanto a
cantora de 28 anos, virginiana, ascendente em capricórnio, posa com ele.
Depois, o pônei volta a ficar inquieto e sai galopando pelo terreno.
— Adoro animais e quero ter uma vaquinha de leite e talvez um cavalo no meu
sítio, mas ainda está tudo em obras, eu me mudei para cá há pouco tempo, menos
de dois meses — diz ela, sentada num sofá na sala do vizinho, um veterinário,
enquanto ajeita os longos cabelos cacheados.
A mineira de Sete Lagoas, que encantou Roberto Carlos, em 2010, durante um show
na Praia de Copacabana, e vendeu mais de 1,6 milhão de cópias do seu último
disco, "Paula Fernandes ao vivo" (2011), não se mudou para lá
sozinha. Mora com a mãe ("Ela faz um frango caipira
sensacional"), o irmão, uma prima ("Que também é minha
secretária") e seus dois cachorros, Floquinho e Zeus.
— Precisava de um lugar que me trouxesse um pouco de sossego, minha vida já é
muito agitada — conta ela, que faz, em média, 25 shows por mês. — É um entra e
sai de hotel que às vezes eu preciso de uma colinha para me lembrar de onde
estou. E olha que eu tenho uma memória muito boa. Mas estou tentando dar uma
controlada nesse ritmo. Por isso, estou até pensando em comprar um jatinho,
algo que nunca cogitei. Não é luxo desnecessário ou vaidade. Hoje vejo que é
uma necessidade. Ando tanto de avião que as minhas milhagens devem estar nas
alturas.
Aos 18, na onda da Geografia
A vida na estrada ou no ar não chega a ser uma
novidade para Paula, que aos 12 anos se mudou com a família para São Paulo,
depois de ser contratada por uma companhia de rodeios, com a qual rodou o
interior do país. Por conta dessa experiência toda, ela diz que às vezes olha
para o mapa do Brasil como se fosse um tabuleiro de um jogo do tipo
"War", marcando os locais por onde já passou.
— Eu mesma me espanto por ter estado em tantos
lugares e ter vivido tanta coisa com tão pouca idade. Só não perdi a cabeça
porque sou muito disciplinada, como toda virginiana, e tenho um família
maravilhosa ao meu lado. Acho que foi por isso que não me deslumbrei com o
sucesso. Aprendi a lidar bem com essa situação. Só sinto falta de ir ao
supermercado.
Aos 18 anos, porém, ela chegou a pensar em parar
de cantar — na época, já tinha dois discos independentes lançados. Morando em
Belo Horizonte, resolveu entrar para uma faculdade, chegando a cursar Geografia
na PUC.
— Nossa, não sei onde eu andava com a cabeça.
Estava aflita, querendo fazer faculdade de qualquer maneira e achava que
Geografia tinha a ver com meu gosto pelo campo, pela terra, mas logo eu estava
cantando em bares para pagar o curso e confirmando que a música era mesmo a
minha paixão.
Em vez de geografia, o resto foi história.
Incentivada pelo músico e produtor Marcus Viana, Paula gravou uma versão de
"Ave Maria", de Schubert, que foi parar na trilha sonora da novela
"América", exibida pela Globo em 2005. No mesmo ano, gravou seu
terceiro CD, "Canções do vento sul", com a participação do grupo
Sagrado Coração da Terra (do próprio Viana) e do cantor Sérgio Reis. Não parou
mais.
— A Paula é cantora, instrumentista e autora. E
excelente nesses três campos. São as características de uma artista completa —
afirma Viana. — Além do mais, ela tem uma pegada bastante original no violão,
que poucos conseguem repetir. Ela me lembra muito a Joni Mitchell.
— Ela é muito talentosa. Estive com ela em estúdio
apenas uma vez, mas fiquei impressionado com a rapidez com que gravamos, de
primeira, sem erro algum — conta o violonista Almir Sater, que gravou com Paula
a música "Jeito de mato", incluída no disco "Pássaro de
fogo", lançado por ela em 2009.
Hoje contratada da gravadora Universal, a
"cantora, instrumentista e autora" comanda uma equipe de 50 pessoas,
entre assessores, músicos, técnicos de som.
— Desses 50, só três são mulheres, o resto é tudo
homem, mas eles nos respeitam direitinho — brinca, dizendo ser "uma
microempresária de si mesma".
É com esse time na retaguarda que ela viaja pelo
país, agora se preparando para divulgar "Meus encantos", que tem
participações de Zé Ramalho, do astro colombiano Juanes e da cantora americana
Taylor Swift. O disco chega às lojas no próximo dia 29, mas seu primeiro
single, "Eu sem você", foi lançado no iTunes no fim de abril.
— Não diria que é um disco de rupturas, mas sim de
consolidação, de continuidade. Não mudei meu estilo, nem me senti pressionada a
repetir o desempenho de vendas do disco ao vivo. Este disco novo apenas retrata
a minha fase, o meu momento. As novidades que ele traz são bem sutis, uma
orquestração aqui, um toque eletrônico ali, bem discreto, como na própria
faixa-título, na qual rola uma viagem sonora.
Boates? Ela tá fora
Bem discreto mesmo. Afinal, Paula confessa que não
é muito chegada a pistas de dança. Ela mexe mais uma vez nos cabelos e ri
quando lembra suas experiências na área.
— Eu só fui a boates três vezes na vida. Na
primeira, não curti muito aquela música alta, as luzes e principalmente a
fumaça, já que sou alérgica. Nas outras vezes, não foi muito diferente — conta
ela, que teve também uma fase rock, por conta de um ex-namorado. — Ele era
louco por black metal, acredita? Eu ouvia, até gostava de alguma coisa, mas não
era para mim. Por causa dele, aprendi a gostar do Metallica. Mas seria mentira dizer
que eu batia cabeça ouvindo metal. Na maior parte dos casos, ele ia sozinho aos
shows. Eu dizia: "Vai, meu amor, pode ir, eu vou ficar em casa."
Canhota, Paula diz que observava com admiração
músicos canhotos também, como Jimi Hendrix e Paul McCartney. E destaca uma
inusitada vantagem no lado esquerdo da Força.
— Toco com as cordas invertidas, parece tudo
torto. Mas é bom porque no churrasco ninguém vem com a mão suja de linguiça
pegar no meu violãozinho — brinca ela, arrumando mais uma vez os cabelos e
ficando ruborizada ao lembrar de uma coisa. — Não sei se deveria dizer isso,
mas tenho mania de usar cotonete, principalmente quando eu fico nervosa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário